Ela revelou-me chorando que carregava uma culpa secreta. Entre as lágrimas quentes ela confessou-se monstro, desprezível, egoísta.
Eu tentei entender toda aquela história, encontrar alguma desculpa que a fizesse sentir-se melhor, mas ela estava decidida, era a razão de todo o mal.
O passado não a deixava viver. Em alguns momentos respirava, em outros parava, numa apneia profunda. Eu achava tudo aquilo um drama, sem motivos. Se a coisa tinha caminhado daquela forma, é porque assim deveria ter sido. Mas ela estava ali, resignada em pedir perdão pelos pecados, flagelando-se constantemente em suas lembranças. Era uma culpa crua, salgada de tanto pranto. Tentei tantas vezes animá-la, destituí-la do cargo de mártir, mas foi um trabalho sem salário. Desde sua confissão, desde o momento em que vi aqueles grandes olhos me encarando, pedindo uma ajuda úmida, comecei também a perguntar-me quais eram as minhas culpas, e rapidamente tratei de completá-las com desculpas, pois é assim que seguimos. Inventamos nossa versão dos fatos.
genial!!!!!!afinal se o ser humano parasse pra refletir em tudo o que faz ele nao existiria... Como continuar? se a gente vive de acordo com aquilo que inventamos, isto é, com o que nos convém.
ResponderExcluirÉ sim, Tamires... somos estranhamente superficiais =S
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